11 de julho de 2017

Pró-vida

"Tu és pró-vida?" Afirmas que sim
Afirmas que aquela vida não é da grávida para tirar:
Que o corpo lá dentro não é o dela, logo,
"autonomia" não justifica o ato.
Se não quer o filho, pode dar.
Se não o queria, não fosse transar.
Se não teve cuidado, vai ter de pagar.
Segues acreditando numa argumentação triunfante.

E eu desprezo-te, e à tua lógica redutora.
Esqueces-te que não são só mulheres que engravidam,
que gravidez afeta o corpo, e esse sim é da pessoa grávida.
Que a pessoa vai ter de lidar com questões.
Ou se vai apegar, depois custa mais dar.
Ou vai ter o seu género questionado...
Tu, que sempre tiveste tudo dado,
Não avalias bem a vida de uma pessoa lutadora.

Esqueces-te de que bebés não se fazem sozinhos,
que quem tem um pénis pode fazer-se à estrada,
que contracetivos também são falíveis,
são um produto humano, usado por humanos.
A maioria das pessoas grávidas já teve filhos,
1, ou 2, ainda dependentes de paizinhos.
Mas preferes arruinar vidas que já existem,
por uma "vida potencial", não desejada.

Não sou eu a dizer isto, é a ciência!
Antes dos três meses a vida que defendes nem tem consciência.
Triste uma pessoa que pode engravidar
ter de recorrer a fontes externas para se fazer acreditar.
Mas já que aqui estamos, pró-vida,
aqui tens também estatística:
Conheces alguém que já abortou,
a pessoa é "comportada" e nunca te incomodou.

Tu és pró-vida. Disso sei eu.
Afirmas que o aborto devia ser ilegal
Só por violações uma exceção ser aberta.
Se não pode cuidar, não fizesse o filho, porque
"na hora de abrir as pernas estava bom".
Não queres entender como a "potencial vida" se tornou concreta,
E sim condenar o prazer que por "feminino" se entendeu.
Ignoras causas e consequências.

A tua opinião está no pedestal do desinformado:
Onde é ilegal, o aborto ocorre mais
Do que onde é legalizado.
E sabes o quê que ocorre também mais?
Mortes.
Leis ou riscos não travam quem está desesperado.
Se a pessoa não pode ter, não pode ter.
E se o fez, não foi por prazer.

Prazer não compensa o arruinar da própria vida,
da vida de quem se ama, da vida de quem poderia nascer.
Mas se há que perder uma vida, que seja só uma:
a que ainda não existe.
"Tu és pró-vida?" Ainda afirmas que sim.
Mas tu não és pró-vida.
Tu és pró-morte. Pró-sofrimento. Pró-ignorância.
Tu és pró-condenar-o-que-não-me-fode-a-mim.