11 de julho de 2017

Ainda

Eu ainda sou um produto da sociedade
Caixinha de preconceitos,
Rapariga da cidade

Eu ainda não sei se fica mal encarar
quem parece diferente de mim
quando só quero encorajar

Eu ainda temo o conceito de masturbação
A minha boca não se abre
e engulo o que tenho no coração

Eu ainda me sinto diferente das outras
Odeio rivalidade feminina
mas as vezes em que fujo dela são poucas

Eu ainda torço o nariz a drag queens
Respeito trans e travestis
mas roupas escandalosas só nos sims

Eu ainda não sei a minha orientação
Sei que género não me importa
mas não sei se sexo não

Eu ainda adoro ver brancos de rastas passar
Vilanizo apropriação cultural
mas aos amigos é difícil julgar

Eu ainda tenho gordofobia
Pessoas "muito gordas" só são aceitáveis
Se trocarem doces por melancia

Eu ainda não sei respeitar os outros
faço o oposto do que me pedem
e reprimo a minha culpa aos poucos

Eu ainda digo coisas capacitistas,
Idiota é o meu insulto favorito
para evitar pensamentos derrotistas

Eu ainda não alio a teoria à prática
Faço-o mais que muita gente
Contudo para ativista sou pouco enfática

Eu ainda me importo com o que pensam de mim
Mesmo sabendo que os julgamentos são errados
remo contra a corrente mas sem querer ser assim